quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Ode ao meu corpo

Olá, meu corpo

Eu acho que desde que o Cauê nasceu, ou melhor, antes, você foi quem mais se esforçou, trabalhou, lutou e eu nunca te agradeci verdadeiramente por isso. Na verdade, eu fiz o contrário. Eu culpei você, eu dei a você o título de incapaz de gerar uma criança saudável. Logo você que fez de tudo para que o Cauê não nascesse prematuro, mesmo sem entender o que estava acontecendo já que todos os exames diziam que você estava bem. Desculpe, meu corpo. Hoje a minha homenagem e gratidão vai pra você.

Eu sei que levei você à exaustão. 157 dias ininterruptos com uma jornada diária de em média 12 horas num hospital, dormindo pouco, comendo pouco e sofrendo muito. Você que ficou horas tentando parto normal, mas enfrentou uma cesárea sem o menor cuidado no pós operatório. Você que não teve resguardo, que teve os seios repletos de leite, mas não tinha o filho que você gerou pra sugar, somente uma bomba fria e sem vida. Obrigada por esse leite, meu corpo. Foram quase 3 meses esperando Cauê poder mamar, mas não deu tempo e a falta da ocitocina e da sucção dele fizeram o leite secar, mas você foi muito guerreiro, meu corpo.

Eu sei que culpei tanto você e hoje, às vezes, ainda culpo. Olho para o lado, para frente e para trás e vejo minhas amigas e estranhas "conseguindo" gestar seus filhos até o final da gestação e ainda me pergunto por que você não conseguiu. O que você fez ou deixou de fazer? Eu sei a resposta no seu coração, mas ainda assim eu sinto que você não é culpado, mas incapaz. Por favor, perdoe-me por isso. Eu estou cuidando da mente para ela me ajudar a tratar você melhor.

Eu nunca vou esquecer da conversa que eu tive com um médico e do quanto, pela primeira vez, eu fiquei orgulhosa de você após a chegada e a partida do Cauê. Ele me disse que pelos sangramentos durante a gravidez, sem os exames acusarem nada, isso significava que o meu corpo estava tentando expulsar o Cauê, provavelmente por mal formações. Como você bem sabe, o bebê lindo nasceu com diversas mal formações como deficiência visual, auditiva, motora....enfim. E foi aí que o médico me disse que ainda assim você aguentou e segurou até onde pôde para que o Cauê tivesse a chance de nascer vivo e cumprir a missão que eu e ele acordamos na espiritualidade. Eu ainda me emociono quando eu lembro disso. Muito obrigada, meu corpo, por ter conseguido as 28 semanas.

Obrigada por não ter adoecido durante os 157 dias mesmo sendo tão mal cuidado. Obrigada por ter levantado do chão quando a mente estava prostrada. Obrigada por ter gerado o Cauê da forma que ele veio. Obrigada por ter me proporcionado a sensação do toque do meu filho, a visão de seus sorrisos, o cheiro de sua pele. Obrigada pelas suas pernas, pelos seus braços, pelo seu útero, pelo seu coração.

Desculpe ter demorado tanto a olhar pra você e perceber o seu mérito em toda essa trajetória. Nos últimos 9 meses, eu achei que só a mente merecia atenção e que cuidar de você com alimentação e exercícios eram suficientes. Mas não são, eu sei. Eu preciso olhar pra você com mais compaixão e gratidão e mudar o discurso e o pensamento que só nos afasta e magoa. Desculpe-me, meu corpo, com todo o seu coração. E obrigada, pois sem você, eu não teria conhecido o Cauê. Sem você, eu não sentiria esse amor tão profundo. Sem o seu coração, eu não teria onde guardar o maior e mais bonito sentimento do mundo.

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