sábado, 29 de agosto de 2015

Sua luz nos faz estrelas


                                   

Desde que eu ouvi Light Years (LY) pela primeira vez, eu sabia que ela seria uma das minhas músicas preferidas do Pearl Jam. Já no primeiro acorde, a canção me arrebatou de um jeito que eu lembro até hoje da dificuldade que eu tive de passar para a quinta música do álbum. Eu a escutei umas quatro vezes seguidas e travei. Por opção e por amor, amor à primeira ouvida. 

Em 2011, eu esperei a turnê inteira do Pearl Jam para ouvi-la ao vivo e isso só aconteceu no último show no Brasil, em Porto Alegre. Eu estava ao lado da Pri, uma grande amiga que a banda me deu, e nós duas cantamos super emocionadas e felizes, a Pri também é apaixonada por LY.  Poucas horas após o show, com o incentivo da Pri e do PR, que na época era só um “amigo colorido”, o universo conspirou e eu pude conhecer, conversar, apertar a mão (e alisar o antebraço, detalhe importantíssimo) e ganhar uma cerveja do meu ídolo, Eddie Vedder. O dia 11/11/11 marcou o meu encontro com Light Years e com o Eddie, uma noite que eu vou levar para sempre na memória do coração.

Após o nascimento do meu filho, a primeira vez que eu ouvi LY eu chorei demais. A letra é muito forte e sensível e mexeu ainda mais comigo diante daquela situação. Quando eu comecei a cantar pra Cauê na UTI, eu senti muita vontade de cantá-la também, mas eu tinha um medo enorme dentro de mim e, de fato, eu nunca consegui fazer isso para o bebê lindo. Com o tempo, o meu amor pela música ficou maior do que o medo e ela passou a me dar força, energia e coragem, mas ainda assim eu não consegui cantar. Eu a ouvi quase todos os 157 dias a caminho do hospital, assim como Better Days e Given to fly. Elas eram - e ainda são - parte da minha rotina e eram como mantras pra mim.  

Quando Cauê foi embora, eu e PR colocamos pra tocar no velório um set list que fizemos para o MP3 dele, em formato de Kombi, que ficava em seu quartinho. Escolhemos com todo amor cada uma daquelas músicas que embalariam as nossas noites quando ele fosse pra casa, mas infelizmente nós as usamos de outra forma. A gente passou a noite inteira no cemitério e assim que o sol nasceu e todos que estavam lá acordaram, eu pedi pra ligar o som e a primeira música que tocou foi Light years. Foi a primeira vez que eu a ouvi depois que ele se foi. E, finalmente, pela primeira e única vez, eu cantei LY olhando pra ele, chorando, tocando-o, beijando-o e agradecendo por todo o amor que vivemos.

Por isso, quando eu pensei em voltar a escrever, o primeiro nome que veio em minha mente para o blog foi “sua luz nos fez estrelas”, a frase mais linda da música. Eu tinha muita dúvida se deveria voltar a escrever, mas não tinha dúvida alguma quanto ao nome. Foi aí que eu procurei a Pri, que hoje mora em Lisboa, mas o nosso amor e amizade são infinitamente maiores do que o oceano que nos separa. Ela foi a primeira pessoa que eu falei do blog e, como sempre, na mesma hora se dispôs a me ouvir e ajudar. Pensamos juntas no layout, modelo, mas ficamos com um impasse. O nome do blog, no endereço, ficaria “ sualuznosfezestrelas”. Isso mesmo, formaria a palavra FEZES.

Nem um pouco agradável, não é?! Pensamos algumas horas e a Pri veio com a sugestão: “San, o que você acha de “sua luz nos FAZ estrelas”?! Caramba, eu tinha pensado em tantas alternativas, mas nunca em mudar "apenas" o verbo. Eu me arrepiei inteira e não por ela ter resolvido o problema das “fezes”, mas pela leitura, talvez até involutária que a Pri fez. Afinal, o que o Cauê me proporcionou, a luz que me tornou estrela é presente, ela continua aqui, o verbo merecia muito ser conjugado no presente e não no passado. Foi como um sopro de inspiração, acho que até dele pra ela. Aquilo fez todo um sentido, lúdico e real, pra mim e agora eu estou aqui, com a luz no presente, com a tentativa - exaustiva - de focar no presente e com o coração cheio de gratidão e amor ao Cauê, ao Pearl Jam, a  Light Years e a minha doce amiga Pri.


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Onde foi mesmo que eu parei?

Há quase seis anos eu escrevi o meu primeiro texto num blog, o Na próxima esquina. Um ano depois, eu fui convidada pra fazer parte dos 7cronistas crônicos e o mais recente foi o Enquanto espero, eu tenho guardado o meu amor. O esquina nasceu após a morte do meu ex namorado, o 7CC surgiu com o convite de um amigo e blogueiro cujo objetivo era reunir amantes da crônica e da língua portuguesa e o Enquanto espero marcou a fase mais intensa de toda a minha existência: a gravidez e o curto tempo de vida do meu primeiro filho, o Cauê.

Todos esses blogs surgiram - e terminaram - por alguma razão especial ou num momento importante da minha vida. Com o começo deste aqui não é diferente. Alguns meses após a partida do Cauê, eu decidi retomar hábitos e rotinas que me faziam bem e um deles foi a leitura. Eu separei umas poesias, contos e crônicas e me deliciei sobre eles. A partir daí surgiu uma vontade enorme de reler os meus textos, especialmente dos dois primeiros blogs. E eu fiz um verdadeiro passeio dentro de mim, dos meus sentimentos, das minhas emoções e a cada texto lido, aumentava a vontade de voltar a escrever.

Ao mesmo tempo, eu me deparei com o receio de me expor demais e perder o controle da privacidade das minhas próprias experiências ou andar em círculos escrevendo muito sobre o que se tornou o centro de mim: a vida do Cauê. Foi uma vivência muito forte e dolorosa e quase tudo que eu ouço, vejo ou leio, eu contextualizo ao que vivemos. Um texto, uma música, um filme, uma conversa, o meu pensamento só quer uma desculpa pra buscar abrigo na memória do meu filho.

Por outro lado, escrever sempre foi muito mais do que é um hobby pra mim. Escrever é algo que, definitivamente, faz parte do que eu sou e a escrita, desde a infância, é uma grande e fiel companheira. O fato é que eu não tenho a intenção de que este blog seja uma continuação do Enquanto espero, até porque aquele blog era, literalmente, para Cauê. No fim das contas, eu acho que o que eu desejo escrever aqui eu preciso contar pra mim mesma. Talvez porque na tentativa de lidar com a morte, a gente arranje uma espécie de esquecimento, não da pessoa em si, mas da sensação que a gente tinha ao lado dela e eu não quero esquecer o que Cauê me proporcionou. Não quero esquecer do seu cheiro, do seu toque, do seu choro fraco e de todo amor que a gente trocou. 

A chegada e a partida dele mudaram a minha forma de perceber o mundo e claro que isso vai se refletir em meus textos, mas eu também não tenho a intenção de inspirar ninguém, muito menos de entristecer quem acompanhe o blog quando eu colocar pra fora alguma lembrança retida. Eu penso apenas em usar a escrita como a minha boa e velha fonte de libertação. Afinal, eu nunca fiz ou participei de um blog motivada exclusivamente por mim. Sempre houve uma motivação "externa" e agora ela é absolutamente minha. Por mim e para mim.

Porém, se a minha escrita emocionar, motivar ou fizer alguém refletir sobre o que eu sinto através dos meus textos, a minha libertação terá repousado, talvez, no benefício de uma ação cuja conseqüência será muito, muito pessoal. E mesmo ainda um pouco perdida depois de tanto tempo distante, eu não sei ao certo onde foi que eu parei, eu só tenho a certeza de que eu quero e preciso muito escrever e recomeçar, ou recomeçar e escrever.