sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Attraversiamo

Eu nunca ganhei nada de “mão beijada” na minha vida.  O pouco que eu tenho de bens materiais ou tudo que eu fiz relacionado a isso veio do meu esforço e da minha força de vontade para conseguir. E eu não lamento ou me orgulho disso. Absolutamente nem um nem outro. É só uma constatação que, de alguma forma, um dias desses me ajudou numa analogia.

Semana passada, antes de meditar, eu fui ler o Evangelho segundo o Espiritismo e abri aleatoriamente na passagem “vinde a mim tu que estais cansados e aflitos que eu vos aliviarei”, que na Bíblia é no livro de Mateus. E há algumas semanas, na oficina de meditação e estudos budistas que eu tô fazendo, a Leila (linda), nossa instrutora, falou que quando nós damos um único passo a caminho da iluminação,  Buda dá mil passos até nós. Bingo! Eu relacionei os dois ensinamentos na mesma hora.

É que pra mim, tanto Jesus quanto Buda são super gente boa, gentis e agradáveis. Eles não forçam a barra pra nada. Jesus não disse que iria até os cansados e aflitos. Ele disse “vinde a mim”. O Buda não dará mil passos até você antes de você dar o primeiro até ele. Ou seja, a paz está ali, a liberdade da mente também, quer pra tu? Então se chegue, meu filho. Tudo bem, eu sei que eles não falariam tão “nordestinamente” assim, mas a ideia é essa. O primeiro passo é meu. O esforço é meu. A liberdade é minha. A escolha é minha. A vivência da paz também.

E ao relacionar os dois ensinamentos, eu me lembrei do tanto que eu caminhei pra chegar onde eu estou. Os primeiros passos sempre foram meus. Deus, o universo e todos os espíritos amigos e bodisatvas estiveram me guiando, protegendo, cuidando e iluminando até aqui. E continuarão se eu também continuar. E vão parar, respeitar e me esperar se eu também parar. Mas nada cairá do céu, nunca caiu, lembra? Eu preciso ir buscar.

Por isso, eu estou muito empenhada no estudo do espiritismo, do budismo tibetano, fazendo terapia, acupuntura, tratamento com floral e meditando, sozinha e em grupo, em busca do entendimento e da serenidade que eu tanto preciso para caminhar. Por um momento, eu até questionei se, talvez, eu estaria "atirando para todos os lados", mas o meu anjinho de guarda me disse que não. Eu senti bem dentro do meu coração que o que eu estou fazendo é buscando ajuda de todas as formas.

Eu reconheço, e muito, que eu preciso de amparo e eu sei que estou saciando a minha sede nas fontes certas. Eu estou dando o primeiro, segundo, terceiro passo, me esforçando para não alimentar a tristeza, desenvolvendo a liberdade real da mente através dos meus pensamentos e das paisagens que eu crio e fazendo as minhas escolhas em busca da paz, ou melhor, em busca da vivência dessa paz que está dentro de mim. O desafio é conseguir usufruir, plenamente, dela.

Deus, Buda, minha família núcleo, meu marido, meus amigos verdadeiros, Dionísio, o Pearl Jam, todos tem me ajudado tanto nessa jornada, mas nenhum deles pode fazer nada por mim se eu não fizer primeiro. O amor é o que me move. O meu amor por Deus, por Cauê, por quem ficou e o meu amor por mim, pelo meu compromisso com a minha evolução e iluminação. Por mais difícil que isso seja, e é muito, eu tenho a responsabilidade pelo conhecimento adquirido e acima de tudo, eu tenho a liberdade de decidir que é preciso continuar. Como dizia a minha querida Liz,  "attraversiamo" ou vamos atravessar?! Vamos sim, vamos atravessar.


Namastê.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Um lugar bonito, leve e colorido



Eu conheci o trabalho da ilustradora mineira, Amanda Mol, há alguns anos. Numa coincidência super feliz, no dia do meu casamento, eu ganhei um quadro da fofa da minha fotógrafa com uma grafia especial de um trecho da minha música com PR (Satellite, do Eddie Vedder), feito pela Amanda. Meses depois, eu vi no site da Amanda que ela estava fazendo ilustrações de pessoas reais, de fotos e aí desejei uma no mesmo instante. Quando eu engravidei, um dia eu pensei que quando o Cauê tivesse uns 9, 10 meses, eu tiraria uma foto linda dele sorrindo e pediria para Amanda ilustrar.

Não deu pra ser assim. Por desconhecidas e doloridas razões, não foi possível. Mas quando eu decidi fazer a minha parede afetiva de tijolos, numa tentativa de dar novos ares lá em casa  e realizar um desejo antigo, eu voltei a pensar na Amanda e em suas ilustrações. E foi aí que eu olhei para a única foto que eu e PR temos beijando o nosso filho e tive a certeza de que seria aquela a imagem para eternizarmos em nosso lar.


Eu escrevi para Amanda, contei um pouco da nossa história e pedi a ela que nos levasse a lugar bonito, leve e colorido onde nós três nunca tivemos a chance de estar. Eu não queria mudar a essência da foto, eu queria acrescentar luz. Afinal, a nossa vida foi dentro daquela UTI e tudo que nós vivemos com o Cauê foi ali. A bata branca fazia parte da nossa rotina, mas eu queria dar vida a ela. A sonda nasogástrica fazia parte da alimentação do Cauê, mas eu queria deixá-la lúdica. O uso das luvinhas era obrigatório, mas eu queria um charme diferente nelas.

E foi aí que eu sugeri as ideias de as nossas batas ganharem cor, da sonda virar um canudinho e das luvinhas se tornarem luvinhas de boxe, afinal, aquele pequeno bebê foi um grande, um grande lutador. O stickbaby angel compôs a ilustração, assim como a expressão " bebê lindo", a forma como eu chamava o Cauê e a frase "your light made us star" da música Light Years, do Pearl Jam, que para mim e PR se tornou a canção símbolo da vida do nosso filho.

Amanda e sua assistente, a Ana, não só entenderam e acataram cada pedido meu, como foram muito sensíveis a nossa história e muito carinhosas com a gente. Quando eu vi a ilustração pronta, eu não me contive e chorei muito, uma emoção enorme tomou conta de mim. Finalmente, eu, PR e Cauê estávamos juntos num lugar bonito, leve e colorido, uma ilustração cheia de vida e que me transmitiu muita paz e amor. Esteticamente poderia até ficar melhor sem a sonda no nariz do Cauê e sem as batas na gente, mas nós éramos assim e eu vejo beleza em tudo que envolve o meu bebê lindo, até mesmo nisso.

Agora a nossa parede de tijolos está completa: tem o enfeite da porta da maternidade do Cauê, a árvore de digitais do nosso casamento, o meu buquê, uma foto linda do Dionísio, uma prancheta com fotos dos membros do Pearl Jam, o símbolo da turnê do Pearl Jam de 2011 (quando eu e PR nos conhecemos), a nossa foto preferida, alguns itens de decoração e amor e o principal, o quadro com a ilustração de nós três num lugar bonito, leve e colorido.

Pequenos passos que damos todos os dias. Pequenas escolhas que fazemos com força e alegria a caminho da felicidade. Mudanças aparentemente externas e tão pequenas, mas com significado e afeto internos e eternos. Eterno do tamanho do amor que sempre unirá os corações de nós três.