segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Liberte me



Em 2011, na última noite antes de viajar pra São Paulo para o início da turnê do Pearl Jam e diante de todo o impasse dos meus sentimentos por PR, eu orei a Deus através de uma música da banda muito importante pra mim: release. Release me ou liberte me foi escrita pelo Eddie para o pai biológico dele, numa história real que mais parece ficção de tão forte e triste que é. Eu, assim como o Eddie, queria muito me libertar das dores do passado e clamei por libertação. E coincidência ou não, essa foi a primeira música que eles tocaram no meu primeiro show do Pearl Jam.

Amanhã eu viajo pra São Paulo e hoje eu acordei no meio da madrugada porque, pela primeira vez, eu sonhei com Cauê. Eu o vi num balanço, no colo de alguém que eu não consegui ver quem era, numa praia, com o body do Pearl Jam que o vesti pela última vez. Ele estava lindo, saudável, cheio de crianças e bebês ao seu redor e estava tocando uma música que eu não identifiquei de primeira qual era. Eu me aproximei um pouco mais, não sei porque eu não consegui chegar tão perto, mas eu ouvi....era release. 

Acordei bem na hora, já chorando e de imediato eu me angustiei porque eu não pude tocá-lo. Eu já me desesperei muito precisando tocar nele, cheirar ele, beijá-lo. Eu luto diariamente pela libertação dessa necessidade física que tanto me perturba e que eu sei que pode perturbá-lo também. Então eu chorei, respirei fundo, coloquei release pra tocar e fui orar e agradecer. Novamente um dia antes de viajar pra turnê. Novamente num clamor de libertação, mas agora num contexto muito, muito diferente. Eu não quero nem jamais me "libertarei" do meu filho, pois nós estamos unidos para sempre por opção e esse amor não é de agora. 

O que eu preciso me libertar é do físico. Eu preciso me libertar da maternidade física que me foi brutalmente interrompida. Eu preciso me libertar do desejo de tê-lo como nunca mais terei. Eu preciso aprender a "maternar" espiritualmente. Eu preciso me contentar em tê-lo, apenas, nas mais bonitas memórias do meu coração e o principal, eu preciso verdadeiramente libertar Cauê para que ele não sinta a minha dor e sim, somente, o meu amor.

" Esperarei pra ver onde isso vai me levar, vou me soltar, liberte-me....."

E o Pearl Jam tem me ajudando muito nisso. Quem me conhece sabe que eles são muito mais do que uma banda de rock pra mim. O Pearl Jam norteia a minha vida, os meus pensamentos e sentimentos, a minha maneira de lidar com o que eu sinto desde os meus 16 anos. Foram eles que me disseram que "não importa quão frio é o inverno, há uma primavera adiante", que "como eu escolho me sentir é como eu sou" e  que "o futuro está pavimentado com dias melhores". Essas são apenas algumas das bússolas que me guiaram nos momentos que eu mais precisei de força e fé.

Em 2011 eu voltei pra casa uma nova Sandryne após a turnê. Não só por tudo que eu vivi com PR, mas especialmente por eu te conseguido me permitir ,verdadeiramente, voltar a viver. Eu sei que na volta desta turnê eu também estarei diferente. A energia dessa banda é vital pra mim. Sempre será. Porém, eu estou consciente do caminho que eu preciso percorrer e de que o PJ não é a minha tábua de salvação nem me colocará no colo e viverá isso por mim. O que eles farão é segurar na minha mão e caminhar comigo tornando o percurso musical, lúdico e cheio de liberdade e amor. Ou melhor, eles já fazem isso. A - grande - diferença é que dessa vez, mais uma vez, será ao vivo.


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