segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Onde foi mesmo que eu parei?

Há quase seis anos eu escrevi o meu primeiro texto num blog, o Na próxima esquina. Um ano depois, eu fui convidada pra fazer parte dos 7cronistas crônicos e o mais recente foi o Enquanto espero, eu tenho guardado o meu amor. O esquina nasceu após a morte do meu ex namorado, o 7CC surgiu com o convite de um amigo e blogueiro cujo objetivo era reunir amantes da crônica e da língua portuguesa e o Enquanto espero marcou a fase mais intensa de toda a minha existência: a gravidez e o curto tempo de vida do meu primeiro filho, o Cauê.

Todos esses blogs surgiram - e terminaram - por alguma razão especial ou num momento importante da minha vida. Com o começo deste aqui não é diferente. Alguns meses após a partida do Cauê, eu decidi retomar hábitos e rotinas que me faziam bem e um deles foi a leitura. Eu separei umas poesias, contos e crônicas e me deliciei sobre eles. A partir daí surgiu uma vontade enorme de reler os meus textos, especialmente dos dois primeiros blogs. E eu fiz um verdadeiro passeio dentro de mim, dos meus sentimentos, das minhas emoções e a cada texto lido, aumentava a vontade de voltar a escrever.

Ao mesmo tempo, eu me deparei com o receio de me expor demais e perder o controle da privacidade das minhas próprias experiências ou andar em círculos escrevendo muito sobre o que se tornou o centro de mim: a vida do Cauê. Foi uma vivência muito forte e dolorosa e quase tudo que eu ouço, vejo ou leio, eu contextualizo ao que vivemos. Um texto, uma música, um filme, uma conversa, o meu pensamento só quer uma desculpa pra buscar abrigo na memória do meu filho.

Por outro lado, escrever sempre foi muito mais do que é um hobby pra mim. Escrever é algo que, definitivamente, faz parte do que eu sou e a escrita, desde a infância, é uma grande e fiel companheira. O fato é que eu não tenho a intenção de que este blog seja uma continuação do Enquanto espero, até porque aquele blog era, literalmente, para Cauê. No fim das contas, eu acho que o que eu desejo escrever aqui eu preciso contar pra mim mesma. Talvez porque na tentativa de lidar com a morte, a gente arranje uma espécie de esquecimento, não da pessoa em si, mas da sensação que a gente tinha ao lado dela e eu não quero esquecer o que Cauê me proporcionou. Não quero esquecer do seu cheiro, do seu toque, do seu choro fraco e de todo amor que a gente trocou. 

A chegada e a partida dele mudaram a minha forma de perceber o mundo e claro que isso vai se refletir em meus textos, mas eu também não tenho a intenção de inspirar ninguém, muito menos de entristecer quem acompanhe o blog quando eu colocar pra fora alguma lembrança retida. Eu penso apenas em usar a escrita como a minha boa e velha fonte de libertação. Afinal, eu nunca fiz ou participei de um blog motivada exclusivamente por mim. Sempre houve uma motivação "externa" e agora ela é absolutamente minha. Por mim e para mim.

Porém, se a minha escrita emocionar, motivar ou fizer alguém refletir sobre o que eu sinto através dos meus textos, a minha libertação terá repousado, talvez, no benefício de uma ação cuja conseqüência será muito, muito pessoal. E mesmo ainda um pouco perdida depois de tanto tempo distante, eu não sei ao certo onde foi que eu parei, eu só tenho a certeza de que eu quero e preciso muito escrever e recomeçar, ou recomeçar e escrever.


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